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Coisa de ego, para aparecer, para ser foco, para ter conexão direta com público, para sentir na pele a experiência de troca, por não conseguir escapar de ser extremamente honesto e biográfico ao pensar arte, para sentir e transmitir em todos os cinco sentidos de percepção, por uma arte presencial, por respeito ao meu colega de trabalho: O Performer, para que o trabalho em si seja EU.

Tentar refletir sobre motivações para a escolha da performance como linguagem de pesquisa, trabalho e expressão pode se aproximar à nossa procura para explicar nosso gosto pessoal, paladar, aromas de preferência, sexo, cores, etc. Simplesmente nos encaixamos no que sensivelmente nos cabe e completa melhor.

Tive minha primeira incursão profissional com meu corpo começando a beber das artes cênicas, um local aonde estacionei por um bom período sem nunca ter uma pretensão financeira, em fome de pesquisa por tantas áreas que fossem possíveis ao meu alcance e interesse pulando por clowns, butôs, teatro físico, teatro-dança e outros teatros-hífens.  Namorei a dança por um tempo pesquisando os contemporâneos e futuramente literalmente fugi, sem dar muitos avisos, com o Circo Bolshoi, onde trabalhei como palhaço por um longo período. Neste momento meus estudos em artes já estavam completos e neles encontrei a performance como resposta à minha frustração de colocar o que eu sentia em plataformas e suportes que não me respondiam suficientemente para o que meu corpo queria gritar.

Neste período tive a sorte de ser assistente de Marina Abramovic por um período de auto imersão e descoberta como artista quando a performance tornou-se um potente mosquito que me atingiu sem cura. O ponto fundamental que carrego é o de poder perceber, ao vivo e em mim, a recepção, seja esta nula, positiva ou negativa, do público. Sinto que assim, mesmo sem estarmos falando, estabelecemos uma conversa, um diálogo e uma experiência que, por ser desta natureza sensível e humana, nunca é a mesma. Já tive a deliciosa decepção de reapresentar performances em outra cidade ou situação cultural com a terrível ingenuidade de achar que seria a mesma colocação. O mesmo trabalho nunca é o mesmo, assim como o outro está sempre em mutação, assim como eu sou instável.

Então gerei um colega: O Performer. Este sim é o profissional para toda obra, me acompanha e sempre aguarda ansiosamente por uma nova proposta para realizar. Com ele consigo me ater ao ofício de estar sempre pensando sobre o que sinto, minha vida e estado atual e desenvolver performances para que ele possa resolver para mim. Já trocamos conversas e escritos e em uma destas conversas ele me disse que, percebendo o mundo, viu que nós, humanos, estamos sempre performando e simplesmente não percebemos isso. Eu nunca duvidei.

 


 

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